O Brilho da Palavra

O Brilho da Palavra

domingo, 5 de janeiro de 2014


Livreto Virtual (Parte 2)

"TUDO DE MIM E UM POUCO DE TUDO"

TELEFONE SEM FIO

  Surfistas conhecem os mares, aves conhecem os céus, viajantes conhecem estradas e aeroportos. Poucos conhecem os povos. As pessoas e suas histórias. Menor ainda é o número de quem mergulha tão profundo em suas histórias que chega a conhecer corações e almas.
  O que te move?-perguntaram para mim num comercial na televisão. Minha boca secou. Meus olhos molharam. Meu coração deu um salto e  eu soube.
  O som das vozes, o timbre das risadas, o olhar ferozmente invasivo, as pessoas me (co)movem, me fazem ir onde elas estão.
  Como ensina o tema da revista Life, em linhas gerais: Conhecer o mundo e os riscos que virão. Ir além dos muros, encontrar o outro, este é o propósito da vida.
  Isso é o que me move.
  Isso é o que me move.
  Isso é o que me move...
Isso é o que me sacode, me levanta, me ajoelha e me põem de pé para continuar.
  Vozes das nações soam ao pé do meu ouvido, cochicham segredinhos, derramam tristezas, compartilham gargalhadas. Eu ouço o que me dizem. Guardo tudo, como se guarda o bilhete perfumado do bem amado, recebido em segredo, entre olhares desconfiados do professor na sala de aula.
  O bilhete perfumado das nações chegou às minhas mãos e estará comigo guardado, cada solicitação, cada sussurro, cada desejo soluçado, cada sabor ansiado, cada assento desejado.   
  Ele soube resolver tudo e virá. Receberão cada gota e cada raio de luz. Tudo virá sobre vocês. Vocês, que tem suas vozes ecoando no secreto do meu ser. Eu escuto.
  Sem perceberem, Deus convidou vocês para brincarem de "telefone-sem-fio". Ele disse: Sussurrem em meus ouvidos. Ouço tudo. Já entendi o que desejam ardentemente. E em seguida, como na brincadeira do telefone, Ele cochichou secretamente, as vozes de vocês em meus ouvidos. E suas vozes agora habitam meu interior. Suas lágrimas, seus cheiros, suas cores e a falta delas também... Está tudo aqui, comigo. Eu guardo o meu bilhete escondido e o releio a cada levantar e declinar do sol.

O COLAR DE MADEIRA -PARTE I

  Era o inicio da noite, muitas pessoas nos cercavam, muitas vozes soavam em minha mente. Eu andava apressadamente, embora estivesse muito distraída, como quem caça algo no ar, sem saber o que realmente procura.
  Esta era minha expressão, naquele momento da noite, quando, de repente, eu vi.
  Eu simplesmente vi e fui sugada pelo que meus olhos descobriram no meio da multidão. Lá estava ele, pendurado no pescoço de um amigo-irmão.
  Era de madeira escura, textura polida, suas curvas variadas formavam a imagem. Um colar de madeira. No formato de um golfinho.
  Poucos meses antes disso, este fato não faria sentido algum. Assim como não deve estar fazendo para você que me lê agora... Mas se me der alguns minutos eu tento me explicar!
  Alguns meses antes deste meu encontro com o colar de madeira, eu havia aceitado o convite de uma amiga para ir à uma praia. Eu não conhecia aquela região. Então ela me incentivou a subir um morro relativamente alto. Subimos de forma convencional, por escadas toscas na lateral do morro. Morro do Cristo, era o seu nome. 
  Ao chegar lá, dois pensamentos me tomaram: Primeiro: Onde estão minhas pernas e meu ar? E segundo: Um absoluto espanto que me tirou as palavras da boca e da mente. De queixo caído fiquei. Olhos arregalados. E a mente surpresa, calada. A vista era espetacular. Sentamos na rocha acima do morro e apreciei a vista.
  Era possível vislumbrar toda a encosta, via-se a espuma na areia em todas as direções do morro. Mas se erguêssemos os olhos era possível visualizar o alto-mar, alguns barcos e o horizonte infinito ao fundo.
  Eu continuava boquiaberta ainda, quando vi algumas barbatanas no mar, próximas às rochas. Eram golfinhos, muitos deles, se mostrando para mim, se apresentando bem na minha frente. 
  Eu havia recebido o convite VIP, da natureza, estava vendo o espetáculo diretamente do camarote. Aquela cena me pareceu tão surreal que eu nunca mais consegui tira-la da cabeça. Permanece bem aqui, até agora e já está completando 13 anos que isto aconteceu, mas ela continua muito vívida em mim.
  Aquela cena marcou minha vida. Eu percebi que muitas belezas são sutis, apresentam-se num espetáculo inacreditável, mas a plateia nem sempre aplaude e nem sempre assiste.
  Aquilo me fez pensar que às vezes os shows belíssimos são reservados apenas para os que decidem subir cansativos degraus cravados na encosta de um morro.
  Descobri que o mundo é um espetáculo indizível e constante. E aprendi que quando somos abençoados pelo show de Deus, nos sentimos parte do espetáculo, como se ele acontecesse dentro de nós também, como se ele transbordasse do "palco" e escorresse direto ao nosso interior. E neste processo, somos convidados pelo Diretor, para sermos parte integrante do elenco e então entendemos nosso papel nesta apresentação incrível.
  Talvez não faça muito sentido, mas muitas coisas que marcaram minha vida, não signifiquem muita coisa para alguns. Ok. Posso viver com isso! Mas desejo que você tenha os seus momentos inexplicáveis também! Vá busca-los. 
  Deus produziu o melhor dos espetáculos, vá assisti-los e descobrirá que faz parte do elenco! (Isso é Belíssimo!) Você é parte integrante do que Ele criou. Você faz parte de um Plano belíssimo, de tirar o folego. Não perca mais tempo. Vá assistir por si mesmo. Faça diferente só desta vez. 
  Só precisa que o faça uma única vez e nunca mais precisará se esforçar para vê-lo, pois ele estará em você e você será um dos elementos químicos de sua formula secreta e perfeita!
  Não pense. Seja.
  Após muito tempo sentada ali no topo daquele morro, decidimos descer pelas próprias rochas, sem nos utilizarmos das escadas. Foi uma experiencia muito intensa, prestar atenção no caminho, medir cada passo, refletir antes de escolher a próxima pedra onde colocar os pés, sentir os músculos dos braços tencionados, segurando teu corpo e tua vida, tudo isso fez parte da experiencia que eu acabara de ter lá em cima.
  
A MÃO FORTE QUE ME SUSTENTOU

  Num momento, calculei mal a distancia e não consegui alcançar a próxima rocha de apoio. Fiquei parada, pensando como poderia sair dali, sem cair rochedo abaixo, quando a mão grande e segura de um homem que também descia aquela encosta com sua familia, segurou a minha mão e me sustentou enquanto eu saltava para a próxima pedra-apoio. Foi surpreendente ver aquele homem, responsável por toda a sua família, esticar sua mão para me ajudar a resolver minha dificuldade. Na hora pensei sem questionar: Deus sempre traz alguém para me ajudar quando esbarro em meus próprios limites. Como Deus cuida de mim!
  E a partir daquela experiencia com os golfinhos, no Morro do Cristo, naquela praia emblemática para mim, eles passaram a ser um símbolo de tudo o que vivi e descobri naquele dia, sobre o show da criação.
  E passei a persegui-los na mesma intensidade em que fui perseguida por eles.

O COLAR DE MADEIRA -PARTE II


  Eu andava distraída, buscando algo, sem saber o que procurar, quando, rodeada por muitas vozes, num salão imenso, enfeitado por bandeiras e com um mapa-mundo gigantesco, fixado na parede, eu o encontrei e ele a mim.
  Eu o vi. E as vozes se calaram. O mundo parou. E eu sai de minha busca aleatória. Corri até meu amigo, eufórica, para tocar aquele colar, aquele símbolo importante em que o golfinho havia se transformado para mim. 
  No fim da noite ele me deu o seu colar! E muito mais: Ele era biólogo e me explicou que estava tendo uma viagem-pesquisa para o litoral, exclusivamente para o estudo de GOLFINHOS.  
  Ele me passou o telefone do organizador e eu liguei para ele de um orelhão, no centro da cidade. Ainda restam poucas vagas para voluntários neste projeto - Disse-me a voz do outro lado da linha. Fernando, era seu nome.
  Nunca me esqueci. Não sei como é sua feição, nem sua voz, mas o nome dele junto ao numero telefônico, escritos num papel amarrotado nunca mais saíram de minha memória.
  Era uma viagem longa cheia de desafios para uma garota. Eu não conhecia o destino, muito menos o caminho. Eram mais de 14 horas na estrada, em vários ônibus e rodoviárias diferentes, SOZINHA. Completamente sozinha.

VOCÊ VAI

  Parecia impossível ter a autorização dos meus pais para isto, principalmente porque se eu conseguisse chegar ao destino, eu passaria muitas horas em pequenas embarcações, em alto-mar, participando do projeto.
  Você Vai - disse-me Deus, em meu quarto, enquanto eu tomava coragem para conversar sobre isso com meus pais. Parecia impossível. Mas meu Deus havia me autorizado a ir, então respirei fundo e chamei meus pais para mais uma fala estranha, confusa e absolutamente sem sentido para eles. 
  E apesar das improbabilidades, confirmando o que Deus havia me contado, meu pai entendeu a mensagem de meus olhos, entendeu e confiou em mim. E finalmente me autorizou a ir.
  Eu Fui.

ESTRELA CADENTE, CIDADEZINHAS E MALA SEM ALÇA

  Tudo naquela viagem foi marcante. Eu não conseguia dormir. Deus me disse: Deita o banco agora. Eu obedeci. E neste exato momento, enquanto deitava no encosto do banco do ônibus, eu vi, bem sobre mim, uma estrela cadente fofa, como quase todas as estrelas cadentes realmente são para mim, fofas.
  Passei a noite viajando. Mal dormi. Amanheci na estrada. Troquei de ônibus. Era preciso fazer muitas baldeações. Comprei uns pãezinhos recheados e assistindo a televisão da lanchonete, tomei meu café da manhã. Liguei para meus pais. Eles são valentes. Aguentaram firmes e me desejaram um bom resto de viagem.
  Eu não tinha celular naquela época. Tudo era feito através dos orelhões. Segui viagem. O sol da manhã foi castigando os passageiros. Quanto mais avançava em meu destino, mais simples os ônibus se tornavam. Sem ar condicionado, sem água mineral, quase sem banheiro e sem cortinas. O calor e o balanço daquela jornada me embriagaram um pouco e eu mal conseguia abrir meus olhos, com a cabeça girando, jogada na beirada da janela, buscando um vento, encontrei cidadezinhas esquecidas, envelhecidas, solitárias entre suas irmãs maiores.
  Placas. Cadê as placas? Onde estou? Quanto falta para a próxima rodoviária? Que calorrrrrr!
  Cansada, sem dormir, tentando não errar o destino e as trocas de ônibus e incorrigivelmente animada, eu segui em frente.
  Próximo ao meio dia, cheguei na ultima baldeação, sabia que precisaria que o relógio de Deus girasse seus ponteiros ao meu favor. Pois o ônibus para a cidadezinha praiana saía exatamente no horário em que eu estaria chegando na rodoviária. O ônibus estacionou, peguei minha bagagem e ela nunca foi tão pesada. Corri ao guichê e o rapaz me disse: Está saindo daqui 5 minutos. Ainda consegui comprar uma preciosa água mineral!
  Ultimo ônibus! Foi o que pensei quando encontrei minha poltrona. Eu mal conseguia ficar sentada, queria saltar do ônibus e viver o meu sonho o mais apressadamente possível. 
  Quando chegamos à cidadezinha, descobri que o ônibus nem pararia na rodoviária (não havia rodoviária), ele parou no meio da rua, mal encostou na sarjeta e me disseram: -É só seguir reto até o final desta rua, não tem erro. Ao que eu respondi: - Mas, moço, estou com uma mala grande, sem rodinhas. Ele deu de ombros e me mandou seguir.
  Carreguei minha mala imaginando o que será que pesava tanto nela, se eu havia colocado apenas roupas leves e chinelos...
  A rua não tinha fim. A mala parecia sem alça. O sol estava intenso e continuava a me embriagar e eu estava sozinha. Mas nessa época eu já possuía asas. Elas me carregaram até a porta de uma pousada, onde toda a equipe de pesquisadores já se encontrava reunida. Encostei minha mala do lado de uma cama, liguei para os meus pais e avisei minha chegada. 
  Eu estava suada, grudenta, ainda sem dormir, com braços doloridos e pernas roxas com as marcas da mala que foi arremessada contra minhas pernas a cada passo que dei naquela caminhada para chegar ao fim da rua.
  Mas eu havia chegado. E estava bem. 
  O resto fazia parte do sonho que eu estava prestes a viver. Então pude dizer: ESTOU PRONTA, quando anunciaram que eles "batizavam" os recém chegados levando-os por uma trilha íngreme até um mirante. Subimos numa velocidade alucinante para não pegarmos a escuridão da noite que se aproximava. Eu deveria ter posto um tênis - pensei ao ver minha rasteirinha de couro (comprada nos hippies) me fazendo derrapar a cada dois passos naquela trilha incrivelmente íngreme e lamacenta.
  No fim do dia tomei um banho, jantei como um búfalo faminto e caí na cama feliz e estranhamente me senti em casa, naquela noite de Janeiro, numa cama de pousada, cercada por amantes de golfinhos, meu coração sambava dentro do peito, mal podendo aguardar até as emoções dos próximos dias. (CONTINUA...)
 


    

4 comentários:

  1. Adorei! Que aventura! E que delicia de leitura!

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    1. Delicia é compartilhar o q vivi e receber comentários! OBRIGADA PELA PRESENÇA! VALEUU

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  2. Concordo! Leitura agradabilíssima. Suas palavras fluem como mel, e combinam com a cor de fundo da página! Estou lendo há um tempão, (de trás para frente, como soe acontecer aos leitores de blogs, he he), e já fiquei freguesa!

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    1. Blu, que massa tua presença e teu comentário me fizeram tão feliz! Que legal entrar aqui e receber tuas palavras! Que privilegio! Que honra... Obrigada! SEMPRE BEM VINDO! Valeu!!! Deus é Contigo mais do que palavras, mais do que sonhos, Ele é o teu ar... RESPIRE-O!!!

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