O Brilho da Palavra

O Brilho da Palavra

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Livreto Virtual (Parte 3)

"TUDO DE MIM E UM POUCO DE TUDO"

ALGUÉM NA ESCUTA?

-Alguém na escuta? Cambio.
-Sim, cambio.
-Encontramos o boto. Cambio.
-Onde? Cambio.
-Está na Ilha, na areia. Cambio
-Ok. Cambio. 
-Avisa os pesquisadores. Cambio.
-Vou leva-los lá agora. Cambio, desligo.

  Era uma manhã normal, naquela viagem espetacular. Mais um dia de café da manhã na padaria, roupa de banho, pele queimada, mais de duzentas picadas no corpo, cabelo refletindo a luz do sol, como uma lâmpada acesa, olhos vermelhos por causa da água salgada do mar, unhas sujas e pés descalços.
Após o café, seguíamos a rotina de ouvirmos os comando do líder e cada dupla se organizava para ir a um destino diferente. Naquela manhã estávamos a procura de um boto que havia morrido no final da tarde anterior e estava à deriva no mar.
  Eu (voluntária) e uma estagiária (estudante do curso de biologia) fomos selecionadas para um dos barcos de turismo, que nos davam carona até as ilhas próximas.
  Entrei sem expectativas especiais, era mais um dia de muita viagem de barco. Sentei próxima à estagiária que eu acabara de conhecer. Eu e ela representávamos os níveis mais baixos de responsabilidade e conhecimento naquele projeto. Muitos ali eram mestres, ou mestrandos (alunos de mestrado), estudantes aprofundados no tema e eu e ela meio que de gaiato naquele barco. Sem saber direito o que fazer, ou procurar.
  Quando ouço uma conversa pelo rádio e meu coração para de bater por um instante. Acharam o Boto? E vão nos levar lá agora? Eu... vou... ver... um... boto??? Vou  encontrar o boto que todos procuraram por horas ontem????
  Fiquei animada, um sorriso largo e bobo teimou em me acompanhar enquanto o barco, cheio de turistas, nos levava até o local.
  Era meu primeiro encontro mais próximo com um golfinho (que naquele projeto era frequentemente chamado de boto. O boto, em algumas regiões é aquele animal cor-de-rosa que vive em águas doces no Brasil. Já o golfinho é um animal acinzentado que vive nas águas salgadas, nos oceanos. Mas para eles, por algum motivo, que não fui capaz de entender, os golfinhos eram chamados de botos. Ok!).

VOCÊS PRECISAM SALTAR AQUI

  A maioria dos grandes sonhos não se realiza  facilmente!
  Ao nos aproximarmos da ilha onde o boto estava, o piloto, nativo da região, diz algo que demorei para entender. Parte por causa do seu sotaque e parte por causa do espanto mesmo!
Ele disse: Saltem.
-Hein?
Ele repetiu explicando: Vocês precisam saltar aqui, o barco não tem escada para descer e não posso me aproximar mais da areia.
-Mas...Como???
Fiquei olhando uma parte do barco na areia e a outra  na água. A frente do barco estava sobre a areia da ilha...
  O rapaz estava ficando nervoso com o meu olhar ainda estático... Os turistas queriam sair logo dali...
  Senti a pressa urgindo na atmosfera... Eu precisava me decidir. Duas dúvidas surgiram: Eu me arrisco a pular para ver o boto, ou volto à terra firme, desistindo desta oportunidade? E a outra dúvida era se eu deveria pular na água, ou na areia. Não, eu não tenho medo de água. Sou um peixe apaixonado. Mas o problema de pular na água é que eu não sabia qual era a profundidade da água naquele ponto, então se estivesse muito rasa e eu pulasse despreparada, poderia me machucar muito.
  Resolvi então pular logo de uma vez. Decidi pela areia.   Embora a distancia fosse incrivelmente alta, preferi pular na areia e me preparar para uma queda drástica no solo que eu podia ver, do que saltar num solo desconhecido. Decisão difícil para uma menina da cidade...

ESTOU DE PÉ, O SHOW ACABOU

  Enquanto eu saltava, ouvi ao fundo um "Ohhhhhhhh", liberado pela plateia de turistas. Tentei cair amortecendo a queda com os joelhos flexionados, mas eu costumo tropeçar em mim mesma e esbarrar em quase tudo, sou um exemplar bem desajeitado às vezes. E por isso, minha tentativa de queda amortecida e suave foi fortemente frustrada: Caí sentada e senti um solavanco incrível nas costas.
  Mas eu carrego em mim a natureza de levantar logo após qualquer tipo de queda. Não sou do tipo que espera pela mão amiga. Amo quando posso contar com mãos amigas, mas não permaneço caída, aguardando-as. 
  Enquanto estou caindo, já penso num modo eficiente de me erguer novamente! Eu sei que nasci para estar de pé. E para voar.  A queda acontece, repetidas vezes. Mas me apresso a ficar de pé, sempre!
  Naquela queda não foi diferente. Cai já levantando! Olhei para a plateia espantada, que agarrava-se ao barco e acenei, afirmando que estava bem e que o show havia acabado!  Eles podiam seguir viagem tranquilos! (Hilário até hoje!)
  O barco se afastou e seguiu viagem. Eu e a estagiária estávamos literalmente sozinhas numa ilha! Para onde ir? Como estabelecer um plano de busca? O que fazer se encontrássemos o boto de fato? Nem eu, nem ela, sabíamos o que fazer.
  Pensamos em ir cada uma para um lado. Mas seguimos juntas, para a mesma direção. Era próximo das 11 horas da manhã e o sol pode ser muito castigador quando precisamos caminhar sem nenhuma sombra por perto, durante vários quilômetros.
  Sobre a areia de uma ilha quase deserta, caminhamos por um tempo, quando então eu o vejo. Enorme e Lindo... Perdi o ar.
  Algumas lágrimas teimaram em aparecer. Mas eu nem me importei.
  Também não me dei conta de que ele estava morto, já mal cheiroso e fora de seu ambiente marinho. Eu apenas tentava lidar com a emoção de visualizar, ali, bem na minha frente, aquilo que, por tempos, persegui com tanto interesse e amor.
  Agora era real. Ele estava morto, é verdade. Mal cheiroso também, é verdade.  Mas estava ali, bem diante de mim, aquela criatura tão intensa, inteligente, simpática e misteriosa. Eu amava os golfinhos há um bom tempo e isso fez músicas soarem em meus ouvidos por todo o tempo em que vivi aquela experiência. Ou talvez tenha sido o sol quente do meio dia... Não sei. Foram tempos embriagantes por causa da intensidade a que meu corpo e minha emoção foram expostos.
  Mas as musicas que bailavam ao meu redor foram interrompidas por uma pergunta: E agora? O que fazemos? (Risos)
  Embarcamos, viajamos, saltamos de um barco, diretamente na areia, caminhamos sob um sol atordoador, encontramos o boto, ficamos frente a frente com ele, mas... E AGORA? O QUE FAZEMOS?
  Sozinhas numa ilha quase deserta, com um boto pesadíssimo, morto, descansando seu corpo na areia escaldante, rodeado por urubus. O que faríamos?
  Por sorte, fazíamos parte de uma equipe bem organizada e experiente. Eles também ouviram a noticia pelo rádio quando ainda estavam em tera firme, o que lhes deu tempo de se organizarem.     Chegaram lá pouco tempo depois. Nos trouxeram água e bolacha salgada e já haviam comunicado um barqueiro para nos ajudar a fazer o resgate do boto. 
  Colocar um boto pesado dentro de uma canoa de alumínio com motor (uma "voadeira") foi um desafio. Eu queria ajudar, porque estou sempre metida em alguma coisa, mas não me deixaram muito, era pesado demais e as ondas quebravam fortes, rolando-o para longe do barco. Afastei-me um pouco  e fiquei observando a força, a persistência e a vontade firme daqueles caras. Demorou muito. Mas o boto foi colocado na canoa-voadora.
  Uns foram no barco, junto com o boto, mas o resto da equipe precisava encontrar um jeito para voltar para a cidade. Alguns conheciam muitos caminhos alternativos, então seguimos pela encosta do mar por horas e horas. Precisávamos entrar no mar, de tempos em tempos, mesmo sem vontade, para dar uma refrescada na temperatura, tiramos alguma peça de roupa e colocamos sobre nossas cabeças, tentamos dividir a pouca água que nos restava e não pensamos muito na distancia.
  Em grandes distancias duras, precisamos focar apenas no passo seguinte. Encontramos uma tartaruga marinha no caminho, linda. Assim como encontramos várias belezas surpreendentes enquanto caminhávamos, areias brancas, mar agitado, violentamente espumado, num tom azul celeste embriagador, mini riachos que nasciam e morriam em uma curta distancia e poças de água colorida (azul marinho, ou marrom avermelhado, cor de Coca-Cola). O caminho era agressivo, mas inexplicável e brutalmente belo.
 
A TORNEIRA DE ÁGUA DOCE

  De tarde chegamos a um estabelecimento que oferecia uma torneira com água corrente. Nunca fui tão feliz com uma torneira! Enfiei-me debaixo dela do jeito que consegui e bebi litros de sua água doce!
  De lá pegamos uns dois ou três meios de transporte bem precários, um deles foi um barco de turismo que nos viu acenando e desviou sua rota para nos buscar. Graças a Deus este barco possuía escadas e após um grande esforço consegui alcançar a base de sua escada e subi até seu topo.
  Entrar naquele barco me trouxe uma sensação de estar segura novamente e me senti realizada, com a sensação de dever cumprido.
  Chegamos em casa, ou melhor, na pousada, no meio da tarde. Tomei um banho e dormi o resto daquele dia, tentando encaixar dentro de mim, tudo o que tinha visto e vivido.

MENOS É MAIS

  Sempre busquei e vivi experiências além da cidade convencional. Gosto do conceito "mochileiro" porque estranhamente quanto menos  possuo, mais completa me sinto. Gosto da sensação de ter que virar bicho, abandonar o salto e o esmalte (que quase nunca uso) e sentir a terra nas unhas. Ter que me virar com o que carrego e saber que dependo do Altíssimo e das relações que vão se construindo no meio do caminho, é uma experiência muito libertadora.
  E em algumas épocas da minha vida senti mais forte este chamado louco dentro de mim, de me unir à vida em uma outra esfera, mais ligada ao tudo que a criação intensa de Deus nos oferece.
  Trata-se de uma dificuldade para mim, não experimentar a vida que Ele criou para nós.
  Sim, Ele me criou para uma vida em abundancia, isso diz respeito aos desdobramentos espirituais e sociais, obviamente, mas abundancia, diz respeito à plenitude e habito num corpo e possuo uma alma, ou seja, preciso oferecer a eles a abundancia que o Senhor me oferta.
  Preciso viver as cores, os sabores, as sensações na pele, nos ouvidos, nos olhos e no coração.
  A  criação é belíssima. Intensa, perigosa às vezes, mas incrivelmente poderosa em nos ajudar a perceber algumas delicias e alegrias desta vida.  
  Precisamos nos fazer felizes, precisamos nos fazer saudáveis, precisamos nos ouvir, para podermos ouvir quem nos cerca. Precisamos aprender a ver. Enxergando. De fato.
  Quando saímos de viagem, nos propomos a sair de nossa zona de conforto, nos propomos a experimentar a vida de uma maneira diferente, nova e inesperada. Por isso nem sempre tudo sai como planejamos, algumas coisas saem bem melhores!  Como afirma o Senhor em  Isaías 55:9 "Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos." 
  Você pode perceber Ele cuidando de você nesta estrada diferente, que você se propôs a trilhar? Espero que sim, pois Ele é tão real e tão presente quanto o ar que você respira nestas terras distante.
  Encerro a terceira parte deste livrinho, reforçando o convite do Senhor para que vivam, mas vivam em abundancia (João 10:10), fazendo cada respiração valer a pena! Não se arrastem. Fomos feitos para voar. Vamos juntos?

  DE-CO-LAR  EM  3,2,1... 

(CONTINUA...)


Aos Leitores do BLOG:
  Com o coração chorando o seu choro de gratidão, eu visualizo na tela do meu computador a quantidade de países que tem me visitado e isso me fez pensar, enquanto eu lhes contava minhas experiências naquela ilha, que muitos de vocês fizeram esta escolha um dia. Escolheram aceitar o desafio de visitarem terras distantes, se afastarem por um tempo de pessoas amadas, para conhecerem e amarem outras, que estavam distantes e que são diferentes das que vocês já conheciam.
  Eu queria dizer a vocês que eu oro com o amor e o cuidado de quem ora por um filho muito amado e precioso. São muitas nações diferentes que estão me encontrando neste espaço, então precisei estudar um pouco de suas culturas, musicas, danças e preciso dizer que me apaixonei pelo o que conheci. Estamos separados por uma tela de computador e alguns oceanos, mas estou profundamente conectada com vocês. Acreditem.
  Por isso, gostaria de conhece-los, saber suas experiências em terras distantes, saber suas duvidas, temores, forças e alegrias. Estou aqui para isso. Para compartilhar com vocês o que amo e também para caminhar com vocês o caminho que vivem hoje. Estou aqui. Vocês me fariam imensuravelmente feliz, se me deixassem um comentário, se me permitissem conhecer alguma coisa sobre vocês, pois acredito que muitos dos que saíram de seus países  maternos, carregam na alma e no corpo histórias que fariam as minhas se tornarem  um gibi muito sem graça!
  Gostaria de conhecer vocês! A Malásia tem me feito companhia quase todos os dias, de maneira MARAVILHOSA! A Rússia, a Alemanha, o Brasil e os Estados Unidos também estão presentes aqui de maneira muito especial para mim!!! A Sérvia, a China e a França já me visitaram algumas vezes também! O que me deixa muito FELIZ! Sinto-me honrada por ter a companhia tão presente de vocês! E amo-os como ama-se filhos, incondicionalmente, sem distinção, embora haja incontáveis diferenças entre eles, os pais sempre os amam de forma intensa. Sintam-se amados desta maneira!
  Tenho buscado conhecer os países que me visitam, e me apaixono pelo que descubro, mas seria uma honra e um privilégio conhecer as pessoas que me leem! Estão todos convidados! Sim espero por vocês nos comentários, mais presentes! Aqui, todos são bem vindos, em Paz e com gratidão!
  Escrever às vezes é como lançar sementes num campo escuro. O escritor lança todas as suas sementes, mas em seu campo escuro, não sabe ao certo o que está alcançando através do seu semear.   
  Quem escreve, escreve sozinho, mas com seu coração e mente focados em leitores que aceitem e acolham suas palavras.
  Ele anseia pelo encontro, entre suas palavras e seus leitores. Anseio assim também. Desde as madrugadas solitárias de minha adolescência, quando eu escrevia meus textos  e pela manhã, eu implorava por leitores. Mas eles não se manifestavam.
  Agora já amanheceu, eu sei que estou começando a ser lida em várias nações e vocês fazem parte deste capítulo especial de minha história. Convido vocês à participarem de maneira ainda mais ativa, deixando um comentário para mim. Eu leio e respondo todos, com alegria, atenção, carinho e gratidão, então, fiquem à vontade para se manifestarem e participarem mais ativamente! Serão muito bem vindos!
Valeuuuu!

  Despeço-me deixando uma declaração de amor feita por Deus, dedicada, neste momento, às NAÇÕES que me visitam. Creia, corajoso e ore pela tua terra!

  DE DEUS PARA AS NAÇÕES (É só clicar!)

Mari Brilho
 

 
 

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